Março é um mês de reflexão, conscientização e luta. Em todo o país, diversas ações são promovidas para destacar a importância da igualdade de gênero e, sobretudo, para reforçar a necessidade de combate à violência contra a mulher. No Brasil, a cada dia, milhares de mulheres enfrentam situações de abuso e agressão, e muitas encontram dificuldades para romper esse ciclo. Diante dessa realidade, iniciativas sociais têm se tornado uma rede de apoio essencial para aquelas que buscam recomeçar suas vidas.
Entre essas iniciativas, destaca-se o Marias da Penha, um projeto idealizado pela jornalista e fotógrafa Ísis Dantas. Com um olhar sensível e empático, ela utiliza a fotografia como uma ferramenta de resgate da autoestima e da identidade de mulheres que sobreviveram à violência doméstica. Dessa forma, o projeto cria um espaço seguro para que essas mulheres se enxerguem além da dor, reconhecendo sua força e sua beleza.
A inspiração para criar o projeto surgiu de um momento de reflexão pessoal. "Na ocasião, vi muitas mulheres ajudando no combate à violência, cada uma com os recursos de que dispunha, e me senti motivada", conta Ísis. "Já fui vítima de violência psicológica e, através da minha lente e da minha facilidade com a escrita, resolvi realizar os ensaios fotográficos para empoderar mulheres que romperam o ciclo, além de contar as histórias de superação delas para incentivar outras mulheres a romperem o ciclo." Assim, o Marias da Penha tornou-se um instrumento de mudança na vida de muitas mulheres.
Enquanto iniciativas como essa promovem esperança, os números da violência contra a mulher no Brasil seguem alarmantes. De acordo com dados recentes do Ministério da Justiça, mais de 1.100 mulheres foram vítimas de feminicídio apenas em 2024, representando uma média de quatro assassinatos por dia. Além disso, milhares de casos de agressão e violência doméstica continuam sendo registrados, muitas vezes sem a devida punição. Dessa maneira, torna-se evidente a necessidade de projetos que não apenas acolham, mas também fortaleçam as vítimas.
"O ensaio é feito com muita delicadeza, com muita conversa e por uma mulher que já foi vítima, como as retratadas. Não há julgamento, ao contrário. É uma sessão de fotografia terapêutica. As mulheres, com suas histórias, se veem como são: fortes, belas e empoderadas. Elas ficam maravilhadas com as fotos e com a beleza que já não viam em si", explica Ísis.
Para garantir que o projeto atenda mulheres que realmente precisam desse suporte, algumas regras foram estabelecidas. "É preciso ter mais de 18 anos, residir no Distrito Federal e já ter rompido o ciclo da violência. Os ensaios são gratuitos, feitos em pontos turísticos do DF e disponibilizados virtualmente para as participantes", pontua Ísis.
Processo de ressignificação
Como qualquer iniciativa independente, o Marias da Penha enfrenta desafios. "Infelizmente, não há nenhum tipo de recurso envolvido, não há equipe. Apenas uma mulher que já foi vítima de violência e que quer fazer a diferença na vida de outras mulheres", revela Ísis. Sem apoio financeiro ou institucional, ela precisa conciliar sua vida pessoal com a demanda do projeto, além de lidar com a dificuldade de encontrar mulheres dispostas a compartilhar suas histórias.
"A maior dificuldade é encontrar mulheres que estejam dispostas a divulgar suas histórias de superação, condição para participar do projeto. Depois, conciliar minha vida, afazeres, responsabilidades e, por fim, não ter apoio com maquiagem, deslocamento, etc.", relata. Mesmo assim, ela segue adiante, motivada pelo impacto positivo que o projeto gera na vida das participantes.
Além de ser uma experiência emocional transformadora, o ensaio fotográfico permite que as mulheres se vejam de outra forma. "Muitas mulheres chegam inseguras, sem acreditar que podem se sentir bonitas novamente. Mas, ao verem as fotos, elas resgatam um brilho no olhar que estava apagado", diz Ísis.
Um mês de conscientização e mudança
O mês de março é muito importante. A cada ano, campanhas e ações voltadas à proteção da mulher ganham força, buscando alertar a sociedade sobre a necessidade de denunciar e combater a violência de gênero.
Mesmo com leis como a Maria da Penha e a existência das Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher (DEAMs), muitas vítimas ainda enfrentam dificuldades para denunciar seus agressores. O medo, a dependência financeira e a falta de suporte adequado são algumas das barreiras que impedem muitas mulheres de sair da situação de abuso. Por isso, é essencial que a sociedade se mobilize para oferecer apoio e criar um ambiente seguro para essas denúncias.
A informação se mostra uma das principais armas contra a violência. Saber reconhecer os sinais de um relacionamento abusivo e conhecer os canais de denúncia são passos fundamentais para interromper esse ciclo. Organizações não governamentais, coletivos femininos e projetos como o Marias da Penha desempenham um papel crucial nesse processo, ajudando a dar visibilidade a essa luta.
Saiba mais sobre esse projeto acessando:
https://www.mariasdapenha.com/
https://www.instagram.com/mariasdapenha/
Fotos: Ísis Dantas
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