Está aberta ao público, até 11 de maio, a exposição Outras Paisagens, em cartaz na Galeria 3 do Museu Nacional da República, em Brasília. Com entrada gratuita e classificação indicativa livre, a mostra pode ser visitada todos os dias, das 9h às 18h, reunindo obras de 27 artistas visuais de diferentes regiões do país.
A proposta da exposição é ampliar o conceito de paisagem, tradicionalmente associado a aspectos naturais, para incluir também dimensões culturais, espirituais, históricas e sociais. A curadora Juliana Crispe destaca que a mostra oferece uma nova perspectiva sobre esse tema, presente há séculos na história da arte. “Ao dialogar com outras formas de expressão e linguagens artísticas, a exposição propõe um olhar atento e questionador sobre outras realidades e invenções”, afirma.
A abertura da mostra foi marcada por uma performance do artista catarinense Franzoi, que também tem obras expostas na galeria. Na ação performática, ele utiliza um tecido tubular vermelho de 70 metros de comprimento. “Fico deitado dentro, em posição fetal. Depois, sem ajuda das mãos, me desloco dentro desse tecido por 14 metros. Paro. Em pé, dentro do tecido, começo a desenhar esculturas móveis, por meio de movimento de contração e descontração do corpo, até que todo o tecido passe pelo meu corpo. Após sair de dentro do tecido, ato-o em meus ombros e caminho até que todo o tecido desapareça da visão do público presente”, descreve.
As obras expostas abordam a paisagem como um território expandido, que atravessa elementos do presente, do passado, do mundo real e do ficcional. A mostra propõe reflexões sobre espaços geográficos, políticos, históricos, corpóreos, científicos e naturais, oferecendo um panorama diverso sobre a forma como a paisagem pode ser representada e ressignificada na arte contemporânea.
A artista indígena Moara Tupinambá participa com duas obras: Kuêra, da série Yuíre, e Reconexão, da série Mirasawá. Ambas tratam de temas ligados à espiritualidade, à ancestralidade e à relação com a natureza. “Espero que o público possa se surpreender com essas criações e possam refletir de alguma forma sobre a defesa de nosso território e da importância da natureza para se ter vida”, afirma a artista.
Na obra Kuêra, Moara propõe uma reflexão sobre as doenças endêmicas que atingem os territórios indígenas, conectando essas questões ao passado colonial. Já em Reconexão, a artista aborda o reencontro com as origens e com a mãe natureza, por meio de camadas espirituais, forças anímicas e referências das culturas indígenas.
Outro destaque da mostra é o trabalho do artista Sérgio Adriano H, também de Santa Catarina, que apresenta obras em fotografia e objetos com base no conceito de decolonialidade. Ele aborda temas como identidade racial, gênero, apagamento social, violência e ancestralidade negra. “Minha pesquisa propõe pensar nas histórias ausentes, nas palavras não ditas e nas ‘palavras tomadas’, dando voz ao silenciado e explorando as fronteiras entre a história social ocultada e a apresentada, em um ‘P.S.’ que reivindica o legado ancestral”, explica.
O artista cearense Antonio Pulquério também integra a exposição com uma instalação formada por sobreposições de imagens e materiais que remetem à ancestralidade e à espiritualidade. Cada elemento da obra percorre diferentes experiências plásticas e sensoriais. “O desejo é que o público encontre uma exposição onde a fonética, a gramática, as metáforas e as subjetividades abordadas se apresentem como um caminho inovador que desvenda a relevância da proposição artística”, declara.
A curadora Juliana Crispe ressalta que os trabalhos apresentados na mostra são produzidos por artistas de diferentes gerações e origens. Segundo ela, esse encontro de vozes distintas reforça a multiplicidade das narrativas presentes na arte contemporânea brasileira. “As expedições à natureza, à ciência e à figura humana, elementos constitutivos de nossa história, provocam-nos a pensar na relação ativa e intensa de seus processos de colonização”, aponta.
Idealizado por Corina Ishikura em parceria com artistas de São Paulo e do Rio de Janeiro, o projeto Outras Paisagens surgiu com a proposta inicial de ser apresentado no Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC-Niterói). Com o tempo, o projeto se expandiu e passou a incluir artistas de outras regiões, culminando na edição atual em Brasília.
Além de ampliar os sentidos do conceito de paisagem, a exposição também propõe ao público uma imersão sensível em diferentes formas de expressão artística. As obras convidam a refletir sobre a relação do ser humano com o espaço, com o tempo e com sua própria história, abrindo espaço para múltiplas interpretações.
A diversidade de linguagens – que inclui fotografia, escultura, pintura, instalação e performance – contribui para o caráter interdisciplinar da mostra. O visitante é convidado a percorrer os ambientes da galeria em contato com obras que estimulam o olhar, a escuta e o pensamento crítico.
Mais informações: Assessoria La Pauta - (61) 9.8168-7402
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