O espaço cultural Cio das Artes, em Ceilândia, foi cenário de celebração e resistência no dia 17 de abril, com a abertura do projeto Tudo Começa no Tambor. A iniciativa valoriza os saberes e fazeres tradicionais das culturas de matriz africana no Distrito Federal e segue com programação gratuita aberta à comunidade.
A cerimônia de abertura reuniu mestres, sambadoras e artistas populares em uma jornada que começou às 16h, com oficinas de dança, bênção de capoeira e uma série de apresentações artísticas que exaltaram o corpo, o tambor e a memória ancestral. O ponto alto foi a roda de mestres comandada pela baiana Mestra Jenice, referência do samba de roda de raiz da Ilha de Boipeba (BA).
“Sou timbaleira, percussionista, toco cavaquinho, pandeiro, dou aula de instrumento e sou vocalista do meu grupo. Fui reconhecida como a matriarca do samba de roda raiz. Em Brasília, vou representar essas mulheres incríveis com muito amor e carinho”, declarou a mestra durante sua participação.
O projeto reafirma o samba como um território de cultura e ancestralidade, conectando tradições da Bahia com a realidade periférica do DF. A proposta é reunir arte, oralidade e espiritualidade em um espaço coletivo de troca entre gerações.
Entre os grupos que abrilhantaram a abertura, estiveram as Sambadeiras de Bimba Filhas de Biloca, Filhos de Dona Maria e o Grupo Afirmação, que trouxe o Samba Duro Arrastão, também conhecido como Samba Junino. A programação incluiu ainda a bênção da capoeira com o Grupo Ginga Ativa e a participação de nomes como Laady B e Júnior Pai de Santo.
Dando continuidade ao movimento iniciado no dia 17, o projeto entra em nova fase com oficinas abertas ao público. A partir do dia 22 de abril, o Cio das Artes passa a sediar oficinas gratuitas de percussão, canto, dança e violão, com turmas às terças, quintas e sábados. A formação tem duração de quatro meses e é voltada a pessoas de todas as idades e níveis de experiência.
“Convidamos nosso público candango às oficinas abertas e gratuitas, com 20 vagas por turma, porém, buscando acolher a todas as pessoas interessadas. As inscrições podem ser feitas presencialmente ou por mensagem nas redes sociais do projeto”, afirma Rodolfo Viscondi, um dos coordenadores.
As oficinas integram uma agenda maior de ações formativas e vivências artísticas, que visam fortalecer a autoestima das comunidades negras e periféricas, promovendo a valorização da cultura popular por meio da educação e da arte.
O Tudo Começa no Tambor é um convite para que a população do DF, especialmente de Ceilândia, celebre a potência dos saberes tradicionais. As rodas, os toques, os cantos e os corpos em movimento são manifestações vivas de uma história que pulsa e resiste.
Patrimônio, arte e pertencimento
Com realização do Instituto Rosa dos Ventos, apoio do Cio das Artes e fomento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), por meio do Ministério da Cultura, o projeto integra uma agenda de preservação dos saberes e fazeres tradicionais como patrimônio imaterial.
“Tudo Começa no Tambor" é um projeto continuado de valorização do Samba de Roda como patrimônio vivo do Distrito Federal. Ele celebra a quebrada como espaço criativo, onde o samba urbano encontra raízes no Recôncavo, nas ladeiras de Salvador e nas vielas da Ceilândia. Porque o samba que se faz aqui é feito de dendê, poeira, asfalto e devoção”, destaca Stéffanie Oliveira, presidente da Rosa dos Ventos.
Além das atividades presenciais, o projeto investe na construção de um legado digital com a produção das séries audiovisuais “Tambores que Falam” e “Meu Tambor Tem História”, que serão gravadas no decorrer do projeto, e da playlist colaborativa “De Cachoeira ao Garcia”, traçando a geografia afetiva do samba do Recôncavo ao Cerrado.
Serviço
Oficinas gratuitas de percussão, canto, dança e violão
Local: Cio das Artes
A partir de 22 de abril
Terças e quintas à tarde | Sábados de manhã
Inscrições: via mensagem no @tudocomecanotambor ou presencialmente no local
Mín. 15° Máx. 24°