Pernambuco abriga 83% do seu território coberto pela Caatinga, o bioma mais ameaçado pelos efeitos das mudanças climáticas. A região enfrenta riscos crescentes de desertificação no semiárido, agravados pela redução da disponibilidade de água e pela diminuição da produção de alimentos. Um novo estudo do Instituto Escolhas, divulgado nesta segunda-feira (22), propõe soluções para reverter esse cenário por meio da recuperação ambiental e geração de renda.
Segundo o levantamento, mais de 20 mil hectares de áreas desmatadas nas margens de rios e nascentes em assentamentos da reforma agrária no estado precisam ser restaurados. A recuperação da vegetação nesses locais é essencial para proteger fontes de água, conter processos de erosão e assoreamento, facilitar a infiltração da água no solo e contribuir para o equilíbrio térmico da região. De acordo com o Instituto Escolhas, a implementação de sistemas agroflorestais (SAFs) nessas áreas pode impulsionar a produção de mais de cinco milhões de toneladas de alimentos, criar cerca de 91,3 mil empregos e remover da atmosfera 2,1 milhões de toneladas de dióxido de carbono — o equivalente a 8% das emissões brutas de gases de efeito estufa de Pernambuco em 2023.
Os sistemas agroflorestais propõem a integração entre a restauração da vegetação nativa e a produção de alimentos. A recuperação das Áreas de Preservação Permanente (APPs) em pequenas propriedades, incluindo assentamentos rurais, é uma exigência do Código Florestal de 2012. O estudo demonstra que investir na restauração desses espaços pode trazer benefícios tanto ambientais quanto econômicos.
Para viabilizar a recuperação dos assentamentos, o investimento necessário é estimado em R$ 504 milhões nos três primeiros anos, alcançando R$ 1,92 bilhão em três décadas. Em contrapartida, a receita líquida projetada é de R$ 5,91 bilhões, mais do que triplicando o valor inicialmente investido.
De acordo com Rafael Giovanelli, gerente de Pesquisa do Instituto Escolhas e responsável pelo estudo, investir na recuperação produtiva dos assentamentos é essencial para enfrentar os impactos das mudanças climáticas. “Essa medida é especialmente importante na Caatinga, bioma em acelerado processo de desertificação. Nosso estudo dimensiona o investimento que precisa ser feito e mostra que os retornos financeiros são elevados,” afirmou.
Giovanelli também destacou que os benefícios da iniciativa são amplos: “Enquanto as matas crescem, protegemos a água e cuidamos do clima, empregos são gerados e alimentos produzidos. Ganha o meio ambiente e a economia.”
Atualmente, Pernambuco conta com 602 assentamentos e 33.051 famílias assentadas, distribuídas em uma área de 574.560 hectares — o que representa 5,9% do território estadual. Dentro dessa extensão, 36.324 hectares são classificados como APPs. A recuperação dessas áreas com sistemas agroflorestais visa não apenas a preservação dos recursos hídricos, mas também a diversificação da produção de frutas, legumes e verduras, promovendo segurança alimentar e geração de renda para as famílias assentadas, ao mesmo tempo em que contribui para a regeneração da mata nativa.
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