O Hospital Universitário de Brasília (HUB-UnB), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), alcançou uma marca histórica na saúde pública do Distrito Federal ao realizar seu milésimo transplante de córnea. Esse feito é um reflexo do compromisso do hospital com a formação de novos profissionais e a recuperação da visão de pacientes que enfrentam doenças oculares graves. Desde 2008, o HUB tem sido um dos principais centros de referência em oftalmologia, oferecendo tratamento especializado e atendimento humanizado para pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).
A trajetória do HUB em transplantes de córnea começou há 17 anos, quando, em parceria com a Secretaria de Saúde do DF (SES-DF), a instituição retomou esses procedimentos com foco em ampliar o acesso da população a cirurgias oftalmológicas complexas.
“Em 2008, a SES-DF e o HUB se organizaram para que o HUB voltasse a realizar transplantes de córnea e assim melhorassem a disponibilidade deste procedimento para a população. Nesses 17 anos de trabalho superamos várias barreiras, mas acho que os destaques seriam as oscilações na oferta de córneas e a pandemia”, explicou o oftalmologista Leonardo Capita, responsável pela milésima cirurgia.
O critério para ser elegível a um transplante de córnea no HUB é rigoroso e envolve uma avaliação detalhada da condição do paciente. “Os pacientes são encaminhados pela SES-DF com doenças que afetam a transparência da córnea. É preciso tentar descartar outras patologias graves como cicatrizes na mácula (retina) ou lesão grave do nervo óptico, por exemplo, para que o paciente tenha chance de recuperar a visão”, detalhou Capita. Essa triagem cuidadosa garante que os procedimentos realizados tenham maiores chances de sucesso, beneficiando diretamente os pacientes atendidos.
Além do cuidado técnico, a humanização no atendimento é um diferencial da equipe do HUB. “Buscamos observar as características de cada paciente para acrescentar orientações específicas e organizar a agenda de retornos de avaliação pós-operatória”, destacou Capita. Ele enfatiza que essa abordagem personalizada é essencial para a recuperação e o bem-estar dos pacientes, refletindo a missão do hospital de promover a saúde com excelência.
Outro fator para o sucesso desses procedimentos é o uso de tecnologias avançadas. “A taxa de sucesso é variável em função da doença prévia. Pacientes com ceratocone têm taxas altas, até 80% de sucesso. Mas pacientes que sofreram trauma ocular têm taxas bem menores, como 20 ou 30%”, afirmou Capita.
Ele também lembrou da importância da doação de órgãos: “É sempre importante lembrar a importância da doação de órgãos. As pessoas devem conversar com seus familiares, deixando claro a sua opção de doador para que esse processo seja mais fácil para a família.”
Superando desafios pessoais
Entre os pacientes que se beneficiaram desse avanço está Gisela Pereira, a milésima pessoa a receber o transplante de córnea no HUB. Gisela enfrentou a distrofia granular, uma doença hereditária que compromete a transparência da córnea, dificultando a visão e impactando diretamente sua qualidade de vida.
“A experiência é indescritível, porque eu sou uma pessoa muito ativa e a falta da visão estava me tirando todas as minhas possibilidades de resolver as coisas sozinha. O meu olho esquerdo, eu já não enxergava nada e o olho direito, uma visão também muito baixa, então até para eu pegar um ônibus eu estava precisando de ajuda e isso aí para mim era inaceitável”, relatou Gisela, que passou por seu primeiro transplante em 2019 no Hospital das Forças Armadas (HFA).
Após anos de luta e uma espera angustiante pela doação do órgão, Gisela finalmente encontrou a esperança de recuperar sua independência. “O maior desafio enfrentado na recuperação da minha visão foi a questão do órgão mesmo, a espera de um doador, porque as pessoas ainda não estão bem conscientizadas de que, por mais que elas tenham perdido um ente querido, esse ente querido pode dar a chance de pessoas que estão com a vida parada. Eu acho que o meu maior apelo seria esse, que as pessoas se conscientizassem de que a doação é muito importante”, pontuou.
Retomando sonhos e perspectivas
Agora, com a visão restaurada, Gisela está determinada a retomar seus planos profissionais. “Para eu recuperar essa visão agora é um divisor de águas, porque até agora eu estava dependendo de todo mundo e tinha alguns projetos que estavam paralisados. A partir de agora, para mim é agora que eu vou recomeçar minha vida”, afirmou.
Ela também destacou a importância de conscientizar as famílias sobre a doação de órgãos. “A espera é uma espera angustiante, porque não é uma cirurgia eletiva, você precisa aguardar que esse órgão esteja disponível para você. Então, a sua vida simplesmente para. E eu acho que o meu maior apelo seria esse, que as pessoas se conscientizassem de que a doação é muito importante”, enfatizou.
O futuro do transplante de córnea no HUB
Com a marca histórica de mil transplantes, o HUB reafirma seu compromisso com a formação de novos profissionais e o avanço da ciência médica. “O HUB cumpre seu papel de participação tanto na assistência à população como no ensino, contribuindo com a formação de alunos de graduação e médicos residentes”, concluiu Leonardo Capita, ressaltando a importância do hospital como centro de referência em oftalmologia no Distrito Federal.
Além de oferecer atendimento de qualidade, o HUB faz parte da Rede Ebserh desde 2013, uma rede que inclui 45 hospitais universitários federais vinculados ao Ministério da Educação. Essa estrutura garante que pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) tenham acesso a tratamentos especializados, ao mesmo tempo que forma futuros profissionais da saúde.
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