Em um país com mais de 1,3 milhão de advogados e mais de 180 milhões de usuários ativos na internet, a presença digital tornou-se um fator determinante para o reconhecimento profissional na área jurídica. Segundo Bruna Espairane, estrategista de marketing jurídico e fundadora da Espairane Marketing, a ausência nas redes sociais não é mais sinônimo de neutralidade. Ela é interpretada como ausência de relevância. “O advogado que não comunica, não existe. E, pior, deixa de exercer influência sobre a narrativa da sua própria reputação”, afirma.
Para a especialista, muitos profissionais ainda resistem a essa mudança, especialmente os mais experientes, que acreditam que tempo de carreira é o único elemento necessário para consolidar a autoridade.
“O respeito hoje precisa ser comunicado. Superar esse bloqueio começa com a compreensão de que posicionamento não substitui competência: ele apenas a revela para quem ainda não conhece. E isso pode ser feito de forma elegante, ética e estratégica”, orienta.
Comunicação acessível e reputação estratégica
Bruna observa que há erros recorrentes na forma como advogados tentam se posicionar digitalmente. Entre eles, destaca o uso excessivo de juridiquês, foco exclusivo em autopromoção sem entrega de conteúdo relevante, estética visual desatualizada e a tentativa de copiar influenciadores sem estratégia. “Esse comportamento enfraquece a credibilidade e distancia o advogado da sua essência”, explica.
Ela argumenta que a construção de autoridade nas redes sociais vai além do número de seguidores. A percepção de valor está em outros elementos. “Um advogado que produz conteúdo consistente, com linguagem adequada, cases relevantes (dentro dos limites éticos) e presença profissional nas plataformas, constrói reputação sólida. A indicação, o convite para eventos e a procura orgânica de clientes são reflexos disso independentemente do número de seguidores”, afirma.
Na prática, a presença nas redes pode resultar em visibilidade qualificada, autoridade reconhecida e maior alinhamento com o perfil do cliente. “O advogado bem posicionado não vende serviços — ele é procurado. E esse é o ponto mais alto da comunicação estratégica: ser desejado antes mesmo de ser abordado”, observa Bruna.
O conteúdo acessível, segundo ela, deve ser construído com responsabilidade e consciência ética. “O segredo está em ensinar sem prometer, informar sem mercantilizar. O conteúdo acessível deve ser educativo, focado na conscientização do cidadão e não na captação direta. A autoridade se constrói pela clareza, recorrência e relevância e não por promessas ou comparações”, esclarece.
O diferencial está, sobretudo, na intenção e na empatia que o conteúdo é capaz de gerar. “A conexão nasce da empatia. Um conteúdo técnico ensina. Um conteúdo estratégico ensina com intenção: ele traduz, contextualiza e gera identificação. O público não quer só saber o que a lei diz — quer entender o que isso muda na vida dele. E esse é o ponto de virada entre relevância e ruído”, pontua.
Quanto ao papel dos influenciadores jurídicos, Bruna reconhece que há riscos e oportunidades. “Tudo depende da intencionalidade e da forma como se comunicam. Quando o influenciador jurídico respeita os limites éticos, educa com responsabilidade e representa a profissão com dignidade, ele amplia o alcance e valoriza a advocacia. Mas quando se busca apenas viralizar sem critério, o risco é a banalização do que deveria ser uma atuação nobre”, conclui.
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